segunda-feira, 27 de maio de 2013

Elogio da Geração Emo




Quero, aqui, fazer o elogio de uma das mais injustiçadas gerações de todos os tempos.
            Com cabelinhos lambidos, olhar de cachorro enxotado, camisas coladas e gírias fofuxas, os emos deram o mais genial golpe de mestre no jogo do choque geracional. A lei é bem conhecida: a toda geração corresponde uma reação oposta de igual intensidade. Rebelar-se contra os valores dos pais é uma das maneiras dos adolescentes afirmarem sua identidade e negar as persistentes influências da infância. É natural que a juventude tente chocar os adultos.
            Depois da liberação dos costumes, da completa falta de noção dos anos 80 e da desilusão dos anos 90, como chocar uma geração porra-louca, drograda, promíscua e completamente acostumada a todo tipo de transgressão? Como irritar uma geração que pregou a liberdade total para todos?
            Os emos são a prova de que, quando se trata de aborrecer, a criatividade da juventude não conhece limites. A rebeldia reiventou-se. Elegendo o carinho como fundamento da transgressão, os miguxos descobriram o que provavelmente é a força mais irritante de todo o universo: a carência afetiva. Ao transformá-la num conceito “descolado”, eles atingiram o paroxismo da segregação, atraindo para si a antipatia mesmo de outros grupos socialmente marginalizados. E quem teria imaginado que seria assim que o sonho das feministas da década de 70 se concretizaria, com uma geração inteira de vitimizados?
            O Emo é a derradeira revolta cultural. É uma rebeldia barroca – o irritar pelo prazer de irritar. Quem teria imaginado que um movimento que surgiu como dissidência dos nerds[1] - numa época em que eles ainda eram conhecidos como otaku – se transformaria numa febre que se espalharia pelos quatro cantos da Terra? E com roupinhas coloridas, abraços, mangás, bandinhas escrotas, corpinhos esguios e todo o seu amor incompreendido, eles se tornaram uma das mais poderosas forças civilizatórias que ainda atuam no mundo.
            Pois, ao ultrapassar a última fronteira da condescendência, eles provaram às gerações anteriores que não há nada de digno ou de libertador no narcisismo. Com isso, tornou-se possível reavaliar todos os excessos das últimas décadas, e assim se encerrou o sombrio capítulo da história da humanidade em que acreditávamos que salvaríamos o mundo fazendo pose.
             Mais importante ainda, ao se estabelecerem como um mainstream de absoluta frivolidade e auto-indulgência, os emos estabeleceram o mote para o próximo choque geracional. Quando a nova leva de jovens sentir necessidade de irritar os adultos que um dia os emos serão, eles subitamente se darão conta de que a melhor maneira de conseguir isso será sendo estudiosos, disciplinados, sóbrios e – last but not least ­– com um acentuado senso de ridículo. Está salva a cultura.
             
           


[1] Vide Siebra, (2012) História Universal da Nerdice.

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