Quero, aqui,
fazer o elogio de uma das mais injustiçadas gerações de todos os tempos.
Com cabelinhos lambidos, olhar de
cachorro enxotado, camisas coladas e gírias fofuxas, os emos deram o mais
genial golpe de mestre no jogo do choque geracional. A lei é bem conhecida: a
toda geração corresponde uma reação oposta de igual intensidade. Rebelar-se
contra os valores dos pais é uma das maneiras dos adolescentes afirmarem sua
identidade e negar as persistentes influências da infância.
É natural que a juventude tente chocar os adultos.
Depois da liberação dos costumes, da
completa falta de noção dos anos 80 e da desilusão dos anos 90, como chocar uma
geração porra-louca, drograda, promíscua e completamente acostumada a todo tipo
de transgressão? Como irritar uma geração que pregou a liberdade total para
todos?
Os emos são a prova de que, quando
se trata de aborrecer, a criatividade da juventude não conhece limites. A
rebeldia reiventou-se. Elegendo o carinho como fundamento da transgressão, os
miguxos descobriram o que provavelmente é a força mais
irritante de todo o universo: a carência afetiva. Ao transformá-la num conceito
“descolado”, eles atingiram o paroxismo da segregação, atraindo para si a
antipatia mesmo de outros grupos socialmente marginalizados. E quem teria
imaginado que seria assim que o sonho das feministas da década de 70 se
concretizaria, com uma geração inteira de vitimizados?
O Emo é a derradeira revolta cultural.
É uma rebeldia barroca – o irritar pelo prazer de irritar. Quem teria
imaginado que um movimento que surgiu como dissidência dos nerds[1] -
numa época em que eles ainda eram conhecidos como otaku – se transformaria numa febre que se espalharia pelos quatro
cantos da Terra? E com roupinhas coloridas, abraços, mangás, bandinhas
escrotas, corpinhos esguios e todo o seu amor incompreendido, eles se tornaram
uma das mais poderosas forças civilizatórias que ainda atuam no mundo.
Pois, ao ultrapassar a última
fronteira da condescendência, eles provaram às gerações anteriores que não há
nada de digno ou de libertador no narcisismo. Com isso, tornou-se possível
reavaliar todos os excessos das últimas décadas, e assim se encerrou o sombrio
capítulo da história da humanidade em que acreditávamos que salvaríamos o mundo
fazendo pose.
Mais importante ainda, ao se estabelecerem como
um mainstream de absoluta frivolidade
e auto-indulgência, os emos estabeleceram o mote para o próximo choque
geracional. Quando a nova leva de jovens sentir necessidade de irritar os
adultos que um dia os emos serão, eles subitamente se darão conta de que a melhor
maneira de conseguir isso será sendo estudiosos, disciplinados, sóbrios e – last but not least – com um acentuado
senso de ridículo. Está salva a cultura.
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