segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Frédéric Chopin e Viktor Frankl: uma aproximação estética


EM BUSCA DE SENTIDO de Viktor Frankl foi um dos livros que mais me causaram impacto na juventude. Sucessor da cadeira de Sigmund Freud e Alfred Adler em Viena, Frankl mostrou que nem só de pulsões sexuais e vontade de poder se faz um ser humano. O homem integral é mais que um corpo; tem alma. E tem sede de algo mais, tem desejo de sentido.


Viktor não elaborou sua teoria ante o descanso de um divã, mas encontrou-a na agitação do mundo: primeiro em Auschwitz, de onde ele escapou com vida; depois na sociedade livre e fútil dos Estados Unidos da América, para onde fugiu e onde se tornou famoso como psicoterapeuta.


Amo o PRELÚDIO OP. 28, NO. 15 (A GOTA) de Frederic Chopin, que no nível inconsciente da criação é a forma melódica do existencialismo frankliano. Suspeito que se pode ouvi-lo e apreciá-lo melhor na segunda taça de vinho, aproximadamente, dependendo da qualidade do ouvinte e da resistência do vinho...


O prelúdio é misterioso porque desenha uma melodia belíssima, mas superficial. Só ouvindo-o com atenção percebo minha ilusão, pois a linha principal da música não são as notas que levemente passeiam, mas uma única nota, repetida, insistente. Quantas vezes nos atemos a coisas atraentes como o prazer, postergando a pergunta essencial da existência! Essa nota teimosa é a pergunta: qual o sentido da vida? qual o verdadeiro sentido da vida? qual é? qual o sentido da vida?

A nota persiste subjacente à música.

Na segunda parte, imagino a morte de uma pessoa querida e a urgência maior da pergunta: a Nota vai crescendo, se fortalecendo, bate forte, até ocupar a primeira plana, imperativa: qual é? qual é? qual é o sentido? A Nota até se desloca um pouco, pula do sol# para o si, mas a sua forma permanece intacta, indelével.

Como numa síntese, na terceira parte volta-se à melodia inicial, leve, ligeira, sem que a Nota subterrânea desapareça. Ela apenas diminui a intensidade, mas continua fiel à pergunta como se desse um recado: você pode passear, viajar daqui para acolá, amigo, porque isso também faz parte da vida, digo, da música, mas não tentes escamotear a Nota, a Gota! Terás de aprender a conviver harmonicamente ou harmoniosamente com ela.

DIÁRIO DE UM CÔNSUL NA FRONTEIRA, 17 DE JANEIRO DE 2014.

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