Escola do Sonho: apresentação da obra poética de José Chagas
Por Frederico Oliveira
Introdução
Certa
vez Manuel Bandeira escreveu que a obra de Gustavo Corção deveria ser traduzida
para vários idiomas de modo a fazer conhecer ao mundo que o Brasil merece um
Prêmio Nobel. Alguns gênios permanecem desconhecidos do grande público, separados
pela barreira do idioma materno ou pelas circunstâncias de um ambiente cultural
mesquinho e outras condições alheias à vontade. Mas há os gênios que permanecem
isolados por uma questão de temperamento ou por pura opção de vida. No caso de
José Chagas, eu diria que se trata de uma conjunção de todos esses fatores.
Imagino
o poeta Manuel Bandeira às voltas com um colega inglês, esforçando-se para
traduzi-lo a contento e a explicar por que a literatura de Corção é tão digna
de ocupar as melhores antologias do Ocidente. A minha angústia é um pouco diferente.
Também descobri um tesouro escondido, mas não tenho a pretensão de divulgar o
nome de José Chagas no exterior. Contento-me se este ensaio vencer a
desconfiança do leitor brasileiro e motivá-lo a conhecer algumas das melhores
páginas poéticas da língua portuguesa.
Como
o autor de Estrela da Vida Inteira, sinto
a angústia de não fazer-me acreditar e, ao mesmo tempo, a necessidade de
compartilhar uma riqueza que não cabe em si mesma. Aceitei o convite para
escrever este ensaio por pura caridade. Caridade não com Chagas, é óbvio, mas
com o leitor que o não conhece.
Em
seus mais de 56 anos de atividade a contar da publicação de Canção da Expectativa (1955), a obra de José
Chagas representa para mim o cume de uma longa tradição literária maranhense,
de Gonçalves Dias a Ferreira Gullar, passando por Sousândrade, os irmãos
Aluísio e Artur Azevedo, Coelho Neto, Graça Aranha e Nauro Machado, para citar
apenas os nomes que tiveram repercussão fora do Estado.
Em Chagas a sabedoria
e a agudez da intuição alcançam enfim a expressão simples e nítida que é a
marca do homem contemplativo dotado de um incomum domínio da linguagem. E não
pode ser chamado de provinciano um homem com tão vasto horizonte de problemas
filosóficos.
Pois José Chagas não
é poeta de um assunto só. Ele não padece da monotonia que pode acometer até os
maiores representantes do cânone ocidental. Ao ler, por exemplo, a obra
completa de Fernando Pessoa, sente-se, a certa altura, uma estafa retórica, um eco
nos ouvidos, um quase adivinhar o verso seguinte. Porque Fernando Pessoa,
apesar dos heterônimos e da polivalência intencional, é um tanto circular em
seus pensamentos: a meio caminho do Guardador
de Rebanhos ou da poesia reunida de Álvaro de Campos, o leitor já antecipa
a compreensão do conjunto, sente-se saciado daquele estado de espírito do autor
e até sofre a tentação de suspender a leitura. Essa condição também se aplica,
creio, a Jorge Luis Borges, de personalidade obsessiva, ainda que seja uma
obsessão do sublime – obsessão do infinito como perplexidade em face do
Universo. Nada disso elide o valor e a genialidade de Pessoa e Borges, é claro.
Mas receio que o mesmo se possa dizer de Kafka – outro gênio plagiador de si
mesmo. Sob esse aspecto, aventurar-se à obra completa de um escritor – mesmo
dos maiores – pode tornar-se uma experiência frustrante. Em algum ponto, o
encanto se quebra, o segredo se revela...
Mas, para nossa
surpresa, José Chagas não padece desse vício de si. O leitor se defrontará com
uma poesia realmente rica em formas e temas. Nela cabem as divagações
metafísicas de Os Telhados, o
discurso mítico-telúrico de Os Canhões do
Silêncio, a sátira política em cordel de O caso da Ponte de São Francisco, as questões existenciais de Antropoema ou o signo da humana dor, as reflexões
sobre o ofício da poesia em A Arcada do Tempo, o amor erótico de Maré Moça e muito mais. Além disso, o
leitor que julgar a obra de Chagas tomando como referência, por exemplo, Apanhados do Chão e Maré memória, concluirá que tem nas mãos um escritor essencialmente
urbano; mas ao descobrir livros como Colégio
do Vento ou De Lavra e de Palavra,
verá que Chagas reserva consigo a sabedoria de um camponês. É que, como
Virgílio, ele legou à poesia nacional a sua Eneida
e a sua Bucólicas, embora não tenha recebido
a equivalente glória acadêmica.
A
Escola do Sonho I
Neste
ensaio, como o próprio título sugere, abordarei a questão do sonho e seu
significado na obra de José Chagas.
Que é o sonho? É a
dimensão imaterial da vida, a transcendência, a Beleza. É a poesia no que ela
tem de “sal da terra”, pois dá sabor à existência e a conserva. Chagas alude mesmo
a passagens dos Evangelhos para demarcar essa missão da poesia, como no SONETO
13 de Colégio do Vento: “É natural/ nem só de pão a boca ser vazia”;
ou n’A Arcada do Tempo:
“pois só ela encerra
o
aviso cristão:
-
passa o céu e a terra,
a
palavra não.
A
palavra fica
persistindo
no ar,
como
a eterna dica,
que
Deus nos quer dar”.
O
trecho acima esboça um respeito quase sagrado pela palavra. Enquanto a
sacralidade bíblica afirma no Verbo Divino o poder de libertar o homem do
pecado, José Chagas vê a poesia como um ofício que liberta o ser humano da
mesquinhez da vida.
Aquele soneto merece
ser citado na íntegra por ser a chave deste ensaio e a síntese da filosofia
estética de José Chagas.
SONETO 13
Muito
cedo plantei o arroz real,
e o arroz do sonho era o que mais
crescia;
também ao capinar o milharal,
mais me ocupava em minha fantasia,
pois da lavra não vinha por igual
o que eu da terra e da ilusão
colhia,
e a esperança do verde era um sinal
a murchar, no verão, como a alegria;
só o plantio da alma é que era tal
que quanto menos chuva mais floria,
e isso era bom, porquanto é natural
nem só de pão a boca ser vazia,
e se pouco era o pão e pouco o sal,
muito era o doce bom da poesia.
Impressiona
a eloquência contida na inteireza desses sonetos compostos, em sua quase
totalidade, de um só período sintático. Além de ter desenvolvido com maestria e
originalidade a técnica sonetística do emprego de duas rimas apenas, Chagas
alcança uma fluência admirável, onde cada verso encerra uma idéia completa, sem
atropelos melódicos. É verdade que em outras peças ele usará de enjambements, como parte de seu variado
acervo de recursos técnicos. Mas tudo sem artificialismos parnasianos. José
Chagas é um sonetista tipicamente moderno, ao lado de Manuel Bandeira, Carlos Drummond
de Andrade e Jorge de Lima.
Ainda na tentativa de
conceituar o sonho no universo do escritor, o SONETO XXV do livro Campoemas nos informa que “de lavra e de palavra a vida é feita”. A
poesia implica, portanto, um trabalho. A palavra depende da lavra. O sonho aí
não é estado de dormência! É uma atividade voluntária, diária e consciente. É a
luta vã de que fala Drummond e que, segundo Nauro Machado, consome toda uma
existência. A Arcada do Tempo é a obra
que José Chagas dedicou particularmente a esse tema:
“O
poema se induz
E
o poeta transpira,
Carregando
a cruz,
Mas
tangendo a lira.
Que
o poema tem isto
de
particular:
mesmo
após ser visto,
custa
a se mostrar.
É
como um segredo
Que,
após já ser dito,
Ainda
é muito cedo
Para
dar-se em grito.
E
o poeta não vence o
Poema,
que o lavra,
Primeiro,
em silêncio.
Depois,
em palavra.”
(...)
E
o poeta acredita
Que
o sonho é no chão;
Que
a paz é restrita
Aos
que a cantarão;
Que
o barro primeiro
Molda
todos nós,
E
o sopro do oleiro
É
a única voz.
(...)
Que
o poema é que encerra
O
canto maior
De
quem lavra a terra
E
a inunda em suor
Quem
cuida a lavoura,
Cuida
a poesia
Que
também se doura
Ao
sol que a recria.
O
poema debulha
Seu
campo de trigo
Na
tarde em fagulha
De
um poente antigo.
Esse
cultivo da poesia produz o sonho, uma colheita que não dá lucro, mas que dá
sentido à vida. Além de saciar a fome de sentido, torna a vida autêntica. Viver
com autenticidade é um mandamento ético da poesia, como ensina Rilke.
“O poema situa
o
poeta na vida
a
mover-se em lua
de
maré sofrida”
(...)
O
poeta é um varão
tão assinalado
que os sonhos só vão
morrer do seu lado.
A
fusão entre autor e obra é que singulariza o artista. Um pedaço de mármore
isoladamente considerado é uma unidade, mas a Pietà de Michelangelo é – mais que unidade – singularidade, porque
comove e, por força de sua graça e beleza, se distingue dos granitos informes.
Além do virtuosismo
de José Chagas que, em A Arcada do Tempo,
experimenta as trovas de cinco sílabas com a igual naturalidade dos decassílabos
anteriores, ele prova acima de tudo um extraordinário poder de síntese. Pois a
boa poesia é compacta. O talento do poeta condensa, com ganho de
expressividade, a frase que, dita de outro modo, demandaria extensas linhas.
Tomemos um exemplo da música popular: “quando
o verde dos teus olhos/se espaiar na prantação”. Uma vez desembrulhada em
prosa, a mesma idéia exige uma série de associações que remetem desde o evento climático
e às consequências sobre a flora, à simbologia da esperança, até o saudosismo do
cantor que identifica os olhos da amada com a paisagem próspera – tudo isso
resumido no espaço de um dístico.
Por isso, só um
grande poeta comprime, na estreiteza das quadrinhas de A Arcada do Tempo, temas tão complexos como a sociedade de massas,
a queda do nível cultural das elites, a decadência intelectual do Maranhão, o
abandono público do patrimônio arquitetônico, a inépcia da crítica literária
feita nas universidades e muito mais.
A
Escola do Sonho II
Esclarecido o sentido
do sonho para José Chagas, convém agora justificar a outra parte do título deste
ensaio.
Escola
do Sonho sugere
uma pedagogia subjacente à poesia. O autor é mais humilde e elege a expressão Colégio do Vento. Colégio é menor que
Escola, pois esta implica seguidores, um corpo de idéias, talvez um fundador. E
o poeta coloca-se na condição de aprendiz – aprendiz de suas memórias, do menino
que observa o velho pai, da criança em primeiras letras, das lições de
fidelidade dadas pelo cão do sítio, das noções de velhice transmitidas pelo
engenho abandonado.
Vou reproduzir outro soneto
cujas imagens transmitem a riqueza desse universo:
SONETO 23
O
riacho secava e em sua areia
eu
escrevia as letras do alfabeto,
como
aluno do campo que semeia
sonhos
em seu canteiro predileto,
e
ilusões vinham todas em cadeia
para
a escola do vento, que, inquieto,
sempre
apagava a minha escrita feia,
pra
que eu a refizesse com o afeto
de
quem retoma o sonho e o delineia
até
vê-lo na mão fluir correto,
como
o riacho que hoje em minha veia
passa,
a escrever-me a vida por completo,
e
um vento de saudade quer que eu leia
mas
vê que sou ainda analfabeto.
Talvez a primeira lição que o mestre da Escola
do Sonho tenha-me transmitido seja a simplicidade.
Apesar da sofisticação
técnica e temática, sua poesia é desconcertantemente simples. Acima de tudo, sua
escrita é límpida como água da fonte. É musical sem esforço. Seus versos fluem
como quem fala, embora ninguém fale espontaneamente com tanta leveza. Em José Chagas , não há preciosismo
vocabular: ele escolhe as palavras do cotidiano que todos usam (areia,
alfabeto, cadeia, afeto etc.), mas ninguém as usa desse modo.
Também aprecio autores
barrocos, mas vejo na simplicidade uma virtude incomparável. Os versos mais perenes
da literatura universal são perfeitamente simples: “No princípio, era o Verbo”; “Ser
ou não ser”; “No meio do caminho de nossa vida”. São também os mais profundos
em termos metafísicos e existenciais! Isso pode parecer um paradoxo, mas não é.
O mau literato é raso como uma poça de lama, que não deixa entrever o fundo: seu
palavrório escuso recobre a superficialidade do pensamento. Mas o bom escritor é
como uma piscina límpida – surpreende o nadador afoito que, de longe, não
adivinha sua profundidade. E a obra de José Chagas é nítida e profunda como uma
piscina olímpica.
A princípio, ilude o leitor
ocasional que o não encontrará nas prateleiras das bookstores[1], senão
em sebos e em edições modestíssimas, pouco atrativas ao olhar do curioso. No
entanto, quem tiver a sorte de apreciar, por exemplo, os 40 sonetos de Colégio do Vento verá que esse ilustre desconhecido
guarda consigo um tesouro.
A segunda lição da Escola do Sonho é a
superação da dicotomia regionalismo-universalidade.
O crítico Wilson
Martins definiu-o como poeta provincial,
mas não provinciano. É uma definição extremamente interessante. Mostra que J.
Chagas sabe valorizar sua terra adotiva da melhor maneira, não com orgulho
bairrista do que há nela de específico, mas explorando o elemento peculiar de
modo a elevar-se a partir dele. O provinciano fecha-se em seu mundo restrito;
enquanto o provincial, assumindo sua identidade e permanecendo fiel a ela,
abre-se ao diálogo com outras culturas. São provinciais, mas não provincianos,
os dramas dos mujiques de Dostoievski, pois nada impede que eu os compreenda e
neles até me reconheça. Sendo universal, Dostoievski não abandona suas raízes
nacionais e permanece profundamente russo. Daí que ser escritor brasileiro ou
ludovicense é algo mais do que simplesmente incluir as palmeiras e o sabiá no
poema.
As questões de que o
poeta trata não se limitam ao ambiente cultural maranhense ou paraibano (José
Chagas é, na verdade, nascido em Piancó/PB). Considerado em sua essência, o
drama da seca é o mesmo para o vaqueiro nordestino e para o pastor marroquino, da
mesma maneira que a angústia da passagem do tempo é uma só para a humanidade
inteira.
Por outro lado, ninguém
o acusará de alienar-se da realidade local. Até por opção de vida, dono de uma
personalidade tímida segundo amigos próximos, Chagas permanece isolado do
circuito literário nacional, por mais que sua obra tenha empolgado críticos
como Wilson Martins e o poeta Carlos Drummond de Andrade. O mistério desse
insulamento na ilha que o acolheu talvez possa ser realmente explicado por uma
preferência à vida contemplativa, alheia ao bulício.
A
Escola do Sonho III
Essa última hipótese
é corroborada por sua ética poética.
À maneira de Rainer Maria Rilke, cujas Cartas
a um jovem poeta ensinam a prática da solidão como condição indispensável para
a criação, José Chagas deixa transparecer no decorrer de sua obra a mesma filosofia
estética.
Permito-me esboçar uma
chave de interpretação cujos elementos aparecem associados ao longo da obra de
Chagas, que eu esquematizaria da seguinte forma:
Certamente parecerá
canhestra tal figura como resultado de um esforço crítico-literário, uma vez
que, por definição, ninguém pode reduzir uma vida inteira a um esquema. Feita
essa ressalva, tentemos explicar a idéia que ela encerra.
Na poética de José
Chagas, a solidão não é um abandono, mas uma decisão do espírito necessária ao
autoconhecimento. O silêncio é a pré-condição da vida contemplativa e criativa.
O sonho representa a atividade poética, o engenho e a arte. A paz é a
recompensa de quem vive essa realidade.
Eis então uma terceira lição da Escola do Sonho: se
queres ser poeta, pratica a solidão, o silêncio e o sonho.
Diz n’A Arcada do Tempo:
Reina
a ingênua crença
de
que, estando triste,
se,
em verso, alguém pensa,
logo,
um poeta existe
forjado
na hora
pelo
esforço vão
com
que ele se arvora
num
ser de emoção.
E
assim se imagina
que
o poeta bisonho
vem
de clandestina
fábrica
de sonho,
ou
que ele se faz
de
fora pra dentro,
de
diante pra trás,
num
giro sem centro (...)
Vejamos adiante como o
autor entende o ofício da poesia segundo a chave de interpretação acima
proposta.
O
poema se apossa
da
palavra e faz
da
incerteza nossa
seu
ninho de paz.
Só
ele é que assume
sua
natureza,
erguendo-se
ao cume
da
montanha acesa
com
que o verbo aclara
um
outro horizonte,
para
a manhã rara
que
de nós desponte.
E
o poema aceita
que
a palavra o faça,
mas
se opõe à espreita
como
de uma caça
que
em silêncio caia
na
sua armadilha,
ou
chegue a uma praia
que
ninguém palmilha,
pois
ele acredita
que
a palavra cresce
sozinha
e contrita
como
numa prece (...)
Ainda uma palavra
sobre os aspectos formais da obra de Chagas. Em A Arcada do Tempo, as quadras de cinco sílabas são a técnica de
expressão eleita do começo ao fim do livro. O fluxo da argumentação e a coerência
da forma vazada em um só fôlego permitem considerá-lo um poema único, cujos
capítulos são como estrofes maiores. Essa unidade também ocorre em Colégio do Vento, De lavra e de palavra..., Antropoema ou o signo da humana dor, Os Azulejos do Tempo, inteiramente
compostos de sonetos-estrofes.
Pode-se extrair daí
uma quarta lição da Escola do Sonho:
deve o poeta exercitar todos os metros, inclusive o livre, de modo a fazer-se
fluente em vários modos de expressão poética? Assumindo o risco de forçar
inferências, parece-me ser justamente essa a prática do mestre. Chagas
desenvolve com igual êxito os versos de quatro, cinco, sete e dez sílabas, além
de ser invejavelmente fluente nos versos livres e brancos. Seu domínio da
língua portuguesa compara-se ao do pianista que, por fazer da música o seu
ofício, impôs-se executar com a mesma perfeição os saltos da valsa, as
cadências dos noturnos, os requebros do choro e os ostinati das fugas de Bach.
O
signo da dor humana
José Chagas é, acima
de tudo, um metafísico. Interroga sobre a natureza do bem e do mal. Questiona
se o mal existe por si, se faz parte da criação divina ou se é uma criação
humana que Deus, respeitando a liberdade do homem, permite, para que o homem
viva o drama ético.
É uma discussão cujo status quaestionis remonta a Santo
Agostinho. Um dos argumentos do ateísmo consiste precisamente em identificar as
misérias do mundo e indagar: se Deus existe e é bom como dizem, essas maldades
não deveriam acontecer; posto que acontecem, ou Deus é mau e aprisiona o ser
humano num mundo de sofrimento ou Ele, de fato, não existe. Pois que fizeram
aqueles inocentes para merecer de Deus tanta catástrofe? José Chagas enfrenta
essa questão no já citado livro De lavra
e de Palavra ou Campoemas:
SONETO XVII
Deus
não tem nada com o que ali se passa,
pois
tudo deu, até demais talvez,
e
deu água, deu som, deu luz de graça,
deu
o tempo total de cada mês
e
deu o chão para que a planta nasça
e
nunca em tempo algum haja escassez,
deu
a destreza com que o homem laça
pela
manhã, no campo, a sua rês,
deu
a esperança que o destino traça
de
a cada um ser dada a sua vez,
mas
o homem produz sua desgraça
e,
arrogante na sua pequenez,
explora
a sua natureza escassa
até
criar o mal que Deus não fez.
Para o poeta, as
riquezas naturais não são um acidente da matéria ou acaso feliz à vida do homem.
A terra, o sol, a chuva, a habilidade e a inteligência humanas são um presente
do Criador – a que, aliás, o ser humano não tem direito de reivindicação: “pois tudo é doação, nada é herança”
(idem, SONETO XLII). E a solução não seria odiar a Deus se algo dá errado, mas
reconhecer aquelas potencialidades como um dom gratuito e, por causa delas, doar-se
à caridade.
XLII
Se
uma flor desabrocha, uma esperança
cresce
no coração da natureza,
e
tudo em torno dela vibra e dança
numa
febril coloração acesa,
e
a brisa da manhã sopra mais mansa
como
pondo carícia na beleza
para
a flor nos dizer que a vida avança
e
que a terra não pode ficar presa,
pois
tudo é doação, nada é herança,
e
há de crescer no campo uma certeza
que
a mão que agora o fruto não alcança
vai
um dia afinal se abrir, surpresa,
para
a colheita pura, na bonança
que
a todos servirá, numa só mesa.
LXV
O
sopro que animou o barro, quente
ainda
das próprias mãos do Criador,
é
o mesmo que, no campo, a terra sente,
dando
energia a tudo quanto for
matéria
posta em sonho de semente,
que
a semente, no chão, sonha com flor,
e
a flor é a realidade transcendente
do
mistério da luz que vem expor
o
dia e revelar magicamente
como
o estrume se faz aroma e cor,
e
é a própria terra sugerindo à gente
com
seu alto poder transformador
que
o barro que nos fez também se esquente
ao
sol das almas e floresça amor.
Mas esse mistério é
talvez grande demais para caber no intelecto humano. O poeta sabe que essas
afirmações são “muito duras”, difíceis de compreender e de aceitar. Aqui,
poderíamos lembrar o anjo que Santo Agostinho encontrou na praia transportando
a água do mar para um buraco na areia. É mais fácil para Agostinho comprimir o
oceano do que entender o Mistério. A fé jamais apaga o enigma, pois o homem
permanece de olhos extasiados diante do sublime:
LXIV
Matéria
de silêncio essa que, exposta
na
largura do chão, nada nos diz
porque
nada dizer é que é a resposta
de
tudo o que no chão se faz raiz,
e
a terra move a paz de que ela gosta
para
expressar-se em florações sutis
no
silêncio subindo pela encosta
das
montanhas que do alto o sol bendiz,
vendo
que a própria natureza aposta
como
a luz sobre o campo é mais feliz
e
como até o boi com sua bosta
levanta
sugestões primaveris,
enquanto
o homem só deixa ali, proposta,
uma
equação perdida de seu xis.
A
epopéia-lírica de São Luís
O leitor culto ao ser
interpelado sobre quem representa o cânone da poesia maranhense pensará
imediatamente em Gonçalves Dias.
Mas eu creio que José Chagas apresenta qualidades superiores às
do cantor de Os Timbiras.
Na poética romântica
de Gonçalves Dias, a palmeira tem apenas o valor de palmeira, as várzeas são
apenas várzeas, e as flores apenas flores. N’Os Canhões do Silêncio – grande epopéia mítico-telúrica – os
mirantes são mais do que mirantes, e os cupins e ratos roem o tempo. Da janela
do mirante, o poeta observa a cidade e contempla o tempo mítico – de feitos
perdidos no passado; o tempo histórico – dos registros, das datas, do
patrimônio colonial; o tempo laboral – dos transeuntes ocupados com o
imediatismo da vida urbana; finalmente, o tempo poético – que assiste a todas essas
sobreposições e interposições de camadas temporais.
O mirante, velho
conhecido na paisagem arquitetônica de São Luís, torna-se uma espécie de zigurate que o transporta para as mais
inquietantes indagações existenciais.
Em “Minha terra tem palmeiras/onde canta o Sabiá”,
o pássaro pode, de fato, ser interpretado como o poeta longe da pátria. José
Chagas rende o seu tributo a Gonçalves Dias e, seguindo o caminho de muitos,
parafraseia a sua própria Canção do
Exílio. Acontece que Chagas acaba superando a versão original. Em lugar do
sabiá, o autor de Os canhões do silêncio
recolhe um bem-te-vi de sua janela especulativa. Enquanto o sabiá gonçalvino
gorjeia, o bem-te-vi, além de cantar, medita:
São
Luís tem cumeeiras
Onde
canta o bem-te-vi,
E
aves outras, estrangeiras,
Não
cantam como as daqui.
Em
cismar sozinho eu sinto
Quase
a certeza de que
Um
velho amor nunca extinto
No
bem-te-vi bem se vê.
Não
permita Deus que eu morra
Sem
que volte sempre aqui
Liberto
e com a alma forra
Como
a desse bem-te-vi.
O pássaro de Chagas
não só canta e medita como tem alma... e uma alma livre. É ele quem lembra ao
poeta o segredo do sonho apanhado em silêncio como grão da paz. E, sem essa paz,
a manhã não tem as mesmas cores.
Sei
todo dia, bem cedo
O
que ele bem viu e diz
Como
quem conta um segredo
Antigo
de São Luís.
Sua
cantiga se faz
Tão
necessária à manhã,
Que
sem ela aqui a paz
Seria
uma coisa vã.
Canta,
bem-te-vi, agora,
Que
amanhã talvez não cantes,
E
só tua alma sonora
Voará
nesses mirantes.
Canta
enquanto o canto encanta
Teu
sonho de aurora pura,
E
o sol te aquece a garganta
Nessa
manhã de ventura.
Canta
esse canto que é bom
Na
alvorada merecida.
Quem
tira da vida um som
Põe
tudo o que é bom na vida.
Canta,
bem-te-vi do mundo,
Para
que o céu bem te veja,
E
o teu som seja profundo
Como
o de um sino de igreja.
Canta,
canta, ó ave irmã,
Que
eu bem te vejo e te ouço:
Teu
canto inventa a manhã
E
faz o mundo mais moço.
Canta,
bem-te-vi amigo,
Canta
o passado e o futuro,
Que
aqui me embalo contigo
Num
canto anônimo e puro.
E
canto neste mirante
Embora
só por cantar,
Pois
sei que meu canto errante
Se
esvai como o teu, no ar.
Nas últimas estrofes,
resta claro que o relativo anonimato de José Chagas, seu isolamento do circuito
literário nacional, parece ser consciente e até deliberado. Ele não aspira ao
isolamento por orgulho, nem o lamenta de alma ferida. Simplesmente aceita essa
condição como um fato necessário ou inevitável: “Resta, porém, a certeza/de que o canto era preciso,/e cada manhã acesa/contava
com o nosso aviso”.
Chegando à metade
deste ensaio, fica claro para mim que a consciência de um canto “anônimo e puro”
liberta o poeta da aspiração da glória, da vaidade, do laurel imarcescível que
eu – frívolo incorrigível – lhe atribuo. O poeta escreve simplesmente como a
natureza produz seus sons, porque “o
canto era preciso” e esta é uma exigência das manhãs. Um amigo me disse que
o verso é como o barulho de um regato: rebenta mesmo se ninguém se dispõe a
escutá-lo.
Isso pode exalar um aroma
de melancolia, mas José Chagas parece sentir-se bem na companhia “apenas” do
seu bem-te-vi imaginário. A discussão sobre essa “solidão exterior” remete-nos
a outra, já abordada anteriormente, a que chamamos “solidão interior”. É uma
solidão que pode ocorrer mesmo na presença de convivas. Solidão de dentro. Da
alma. “Quem é de mirante/é de
solidão/solidão constante/seja só ou não”.
Recordo que Heitor
Villa-Lobos, quando indagado se não lhe incomodava o apito do trem que passava
à porta de sua casa, deu a intrigante resposta de que o ouvido de dentro não se
confunde com o ouvido de fora! O artista vive essa tensão entre o necessário
recolhimento e a inevitável exposição à vida. Entre ser poeta e ser cidadão,
amigo, irmão, pai de família. José Chagas elabora melhor essa condição na
metáfora do gato:
Também
o gato é leve
caminhando
num fim de tarde
o
peso de sua sombra
se
incorpora aos muros
e
o gato não é senão
a
presença em pelo dessa sombra
em
forma de gato
desenhada
no ar
O
gato chega a esse fim de tarde
ao
longo de um caminhar
de
mais de trezentos anos
e
os telhados o reconhecem
como
a testemunha mansa
de
todas as forças do tempo
que
agora se ocupa inteiro
na
preparação da noite
(...)
Longo
sobre o muro
dá
à tarde rasa
seu
silêncio puro
de
animal de casa,
de
bicho macio
que
afeito a carinho
goza
o desafio
de
se ver sozinho.
Àqueles que não leram
ainda Os canhões do silêncio cabe
aqui uma nota. Trata-se de um só poema cujo fluxo ignora a forma livre ou
metrificada, transitando de uma para outra sem solução de continuidade ou perda
do ritmo narrativo. O autor exercita pelo menos 5 metros distintos (o de três,
quatro, cinco, sete e dez pés), além da forma livre. O ritmo do livro
constitui-se precisamente das variações na extensão dos versos. Antes que o
ouvido humano se canse da pulsação métrica, o poeta conduz as águas do
poema-rio para um novo leito, mais estreito ou mais extenso, numa alternância
de embalos. Ora as idéias fluem ligeiras nas calhas apertadas de redondilhas
menores, ora espreguiçam-se no langor discursivo de frases mais longas.
Poder-se-ia escrever
um ensaio à parte exclusivamente dedicado à análise dos bichos que aparecem na
poesia de José Chagas, sobretudo em Os
canhões do silêncio. O gato; os pombos; a barata, os ratos e o cupim; o
cavalo da morte; a andorinha; o urubu – todos dotados de profundo significado.
Também os objetos inanimados como o mirante, a janela, os telhados tornam-se
vivos e conversam conosco, testemunhando o rastro do tempo.
N’Os canhões do silêncio, o mar não é
simples componente da paisagem, agradável à vista. O mar é símbolo do infinito,
da eternidade. Mesmo quando o poeta se recusa a sondar o mistério, é este quem
o procura: “Que mar é esse/que me
rodeia/com interesse/de maré cheia?”. Uma sucessão de indagações desemboca afinal
num belíssimo soneto dedicado a Gonçalves Dias, cujo mergulho no mar foi um
mergulho na eternidade. Naufragado na Baía de São Marcos, sua morte o
imortalizou. O poeta lendário veio morrer em sua terra, embora não em terra
firme, e, sem ter sido atendido, teve atendida a sua prece – “Não permita Deus que eu morra/sem que eu
volte para lá”. Entrou no mar infinito... e assim tornou-se mais presente e
palpável do que no cemitério.
Devo ainda uma
explicação sobre o motivo por que classifiquei Os canhões do silêncio como epopéia-lírica. Que essa obra tem de
épico? Certamente, distingue-se da epopéia no sentido clássico, ao estilo de
Tasso ou de Camões, pois não versa sobre feitos guerreiros ou heroicos. É épico
na medida em que narra a condição solitária do poeta assistindo à degradação do
ser e à deterioração da cidade. É um heroísmo de comparecer sozinho ao chamado
do mirante...
Na epopéia-lírica de Os canhões do silêncio desaparecem as
idéias de um povo destinado a grandezas e de um autor que se imortalizou por
cantá-las. O verdadeiro poeta almeja a paz, e esta é de certo modo incompatível
com a fama. Daí que só possa ser considerado épico naquele outro sentido, na
medida em que conta a saga do que caminha para o fim. É um drama, ao mesmo
tempo, individual e coletivo: a cidade e o “eu-lírico” rumam para o abismo do
tempo. A existência vai-se apagando melancolicamente. Os canhões silenciam.
Como no Bolero de Ravel, ouve-se o
toque triste e triunfal de quem marcha para uma sentença de morte.
Em
busca da inocência perdida
A partir dessa visão
peculiar sobre passado e futuro, chega-se à última lição da Escola do Sonho.
A Modernidade caracteriza-se
pela crença no futuro. De um lado, os liberais e sua crença no indivíduo; de
outro, os socialistas e sua crença no Estado. Ambos parecem adversários, mas na
verdade são frutos de uma mesma mentalidade: a razão progressista. No Brasil, acima
dos conflitos aparentes das legendas partidárias, nenhuma voz discordante ousa questionar
o desenvolvimentismo dominante desde
1930.
Creio seriamente que
ainda está para ser escrita uma Crítica
da Razão Progressista, mas essa é outra discussão. O fato é que, como todo
grande poeta tem muito de filósofo, a cantiga de José Chagas subverte a
cantilena do senso comum brasileiro: em vez de buscar num futuro utópico a construção
de uma Terra-Sem-Males, o poeta procura numa infância mítica o estado de pureza
que a alma envilecida pela crueza do mundo corrompeu.
José Chagas está
constantemente em busca dessa inocência perdida. Ele sofre por haver-se
distanciado da paz genuína daquela gente simples de Santana dos Garrotes:
SONETO 12
Minha
mãe não sabia que seu filho
iria
ser só isso que hoje é,
nem
sabe agora que por onde trilho
piso
mais chão de mágoas que de fé,
e
esse pó de incertezas que palmilho
obriga-me
a voltar na vida até
onde,
fechado em solidão, me humilho,
a
acompanhar um sonho em marcha à ré,
lembrando
o tempo em que eu plantava milho
a
abrir o chão da vida com o meu pé,
e
mamãe repetindo em estribilho,
toda
manhã, na hora do café,
meu
nome tão de santo, mas sem brilho,
hoje
muito mais chagas que José.
SONETO 8
Meu
pai sabia a vida, e o seu destino
era
o de quem não diz e apenas faz,
dando-me
o testemunho nordestino
de
homem comum que não corria atrás
de
ilusões gastas pelo desatino,
pois
bem sabia o que era ser capaz,
e
orvalhado no sonho matutino,
laborava
o seu dia e era sagaz
ao
me testemunhar do ser menino
até
o quanto em mim se fez rapaz,
quando
meti as mãos pelo destino,
sem
me importar com o que o destino traz,
e
hoje o que peço aos céus, quando o imagino,
é
que eu não seja um peso em sua paz.
LXXXVII
E
eu traí a mim mesmo e aos companheiros,
pois
passei a lavrar noutro terreno,
latifúndio
verbal de mil posseiros,
e
sendo sempre um lavrador pequeno,
que,
embora plante sonhos verdadeiros,
nunca
faço o plantio ficar pleno
de
frutos, como o de outros fazendeiros,
e
às vezes me deparo com o veneno
de
serpentes em botes traiçoeiros,
ou
jogam-me águas sujas, mas eu dreno
o
chão onde cultivo os meus canteiros
com
carinhos de sol e de sereno
e,
esmagando os insetos mais rasteiros,
é
para o céu que eu olho e que eu aceno.
Sua vida está assim arremessada
entre a impossível conquista da paz que o vento do destino apagou e a
reconquista de outra paz duradoura. É a síntese filosófica de uma nova relação
passado/futuro proposta no livro De Lavra
e de Palavra...
O
Óleo da Tocha: Tradição e Despedida
Este ensaio não pretende
ser um estudo acadêmico da obra de Chagas, daí minha informal despreocupação no
protocolo das referências bibliográficas, bem como das citações e até da
metodologia empregada, que o leitor indulgente perdoará.
A Escola do Sonho resume tudo o que
aprendi com José Chagas: a poesia colhida em silêncio; o exercício da técnica
verbal; as riquezas da infância; a transcendência da realidade partindo sempre
da experiência imediata; a dívida com a tradição familiar e suas raízes.
Num fragmento lapidar,
G. K. Chesterton assim definiu a tradição: “Nunca
consegui entender onde as pessoas foram buscar a idéia de que a democracia de
algum modo se opunha à tradição. É óbvio que tradição é apenas a democracia
estendida ao longo do tempo [...]. Tradição
significa dar votos à mais obscura de todas as classes, os nossos antepassados.
É a democracia dos mortos. [...] Todos
os democratas objetam a desqualificação pelo acidente do nascimento; a tradição
objeta a desqualificação pelo acidente da morte. A democracia nos pede para não
ignorar a opinião de um homem bom, mesmo que ele seja nosso criado; a tradição
nos pede para não ignorar a opinião de um homem bom, mesmo que ele seja nosso
pai”. Eu acrescentaria: a
tradição é o fio condutor da história. Reconhecê-la é reconciliar-se consigo,
pois é preciso descer às próprias origens para entender a si mesmo.
Como
jovem escritor, confesso a pretensão de sentir-me herdeiro da tradição de José
Chagas. Não vai nessa afirmação a presunção de ombrear-me a ele, mas o
reconhecimento grato do quanto lhe devo no aprendizado da literatura.
Este
livro é, assim, uma visita de cortesia que uma geração oferece a outra. Só por
isso vocês me perdoarão o cabotinismo incorrigível, mas não resisto à tentação
de concluir o presente ensaio com um poema...
Para muitos, a
crítica literária deveria ser objetiva, solene e catedrática. Mas eu não passo
de um crítico literário por acidente, leitor apaixonado e poeta amador que
financia do bolso suas próprias edições, privado da erudição que me permitiria melhor
interpretar José Chagas e situá-lo com exatidão no panorama da literatura
ocidental.
Deixo simplesmente no
túmulo do poeta maior o presente pueril que um menino exultante corre para oferecer
ao mestre:
A JOSÉ CHAGAS
Na
tua escola do sonho,
tive
as primeiras lições,
e
hoje o que eu mesmo componho
são
decalques de canções
mal
traçadas, onde exponho
as
tenebrosas visões
do
meu preparo medonho
para
a ceia dos leões.
Mas,
se o meu canto carece
daquela
forma mais pura
que
o mestre faz e desfaz,
o
que mais ele procura
é
ser um pranto de prece:
que
Deus me ensine a tua paz.
[1] Seus livros sequer constam do
catálogo da Livraria Cultura, da Saraiva, da Amazon e outras distribuidoras de
porte equivalente. Entretanto, sua Antologia
Poética organizada pelo erudito Sebastião Moreira Duarte e outros títulos
como Os canhões do silêncio são
encontráveis em sebos do Brasil inteiro, disponíveis em
www.estantevirtual.com.br.
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